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(imagem retirada da internet) |
Deficiência Auditiva
O
conceito de deficiência auditiva reflete, segundo Behares (1993) citado em
Dorziat (s.d.), uma visão médico-organicista em que a pessoa com perda auditiva
é encarada como um portador de doença. Neste sentido, para que os efeitos da
doença possam ser extintos, é necessário tratar a deficiência que se encontra
subjacente. De acordo com esta visão, o tipo e o grau de perda auditiva
presente no diagnóstico clínico são fatores primordiais para o encaminhamento
educacional do indivíduo, bem como para as expectativas sobre o desenvolvimento
da linguagem (Dorziat, s.d.).
Existem
diferentes graus de deficiência auditiva (leve, moderada, severa e profunda)
que diferem em função da perda auditiva e das características da pessoa, o que
faz com que se adotem diferentes atuações clínicas e educacionais (Dorziat,
s.d.; Medeiros, Gianini, Gomes & Batista, 2005)
A
condição de deficiência leva o indivíduo a ficar isolado de uma variedade de contextos
sociais. Isto acontece, mais propriamente, quando há uma perceção clínica de
que não é possível tratar essa mesma deficiência auditiva (Inácio, s.d.). Este
conceito está relacionado com a utilização de procedimentos que visam adaptar o
indivíduo com perda auditiva aos meios de comunicação utilizados pela
sociedade, nomeadamente a fala (Dorziat, s.d.). Assim, a pessoa com deficiência
auditiva faz parte de uma comunidade minoritária, pelo que se torna pertinente
criar novas práticas no sentido de a incluir socialmente. Desta forma, é
necessário analisar os preconceitos e os estigmas para que a sociedade consiga
conviver com a diferença (Ribeiro & Netto, 2009).
Em suma,
consoante a definição de deficiência auditiva não são valorizados os contextos
psicossociais e culturais nos quais a pessoa com perda auditiva se desenvolve,
nem a própria experiência do indivíduo (Sá, 2006).
Surdez
No ano
de 1993, Behares realçou a necessidade de olhar para os indivíduos com défice
auditivo através de uma perspetiva sociocultural. Este autor define surdez como
«uma entidade cultural. Tanto que tem sua
história, ou seja, evolui e se modifica como qualquer outro objecto cultural.» (Medeiros,
Gianini, Gomes & Batista, 2005). Desta forma, o termo surdo seria o que
melhor definiria uma pessoa com défice auditivo, visto que esta é a expressão
utilizada pelos próprios para se referirem a si mesmos, enquanto pessoas com
características psicoculturais próprias (Dorziat, s.d.).
A surdez
é uma identidade múltipla que se encontra dentro da temática da deficiência,
mas que é politicamente reconhecida como uma diferença (Skliar, 1998). Desta
forma, os surdos pertencem a uma comunidade com uma cultura e língua próprias
(Inácio, s.d.). Assim, os surdos ou Surdos (como proposto por diversos autores)
são pessoas que não se veem como deficientes, utilizam uma língua específica
(Língua Gestual Portuguesa), valorizam a sua arte e literatura e propõem
indicações específicas para a educação das crianças surdas (Bisol &
Valentini, 2011).
Todos os
aspetos supracitados são englobados na cultura surda. Nesta é defendida a
existência de uma cultura visual, sendo que a informação é recebida e traduzida
de forma visual. Para a sua afirmação, existem, em vários locais, organizações
e coletividades surdas que se regem de regras e princípios nos quais, em casos
mais restritos, não é permitida a participação de ouvintes (Quadros, 2003).
Sendo a
língua uma das características fundamentais para a pertença à cultura dos
surdos é imprescindível a sua aprendizagem por surdos. A língua dos sinais que,
em Portugal é denominada por Língua Gestual Portuguesa [LGP], possui regras
próprias a vários níveis (fonológico, morfológico, sintático, semântico e
pragmático) e é utilizada como outra língua qualquer. No entanto, esta forma de
comunicar não foi sempre reconhecida como uma língua. Para o reconhecimento ao
direito de utilizar a língua gestual é necessária uma aquisição da linguagem e
a conceptualização da língua como um meio para a interação social, cultural,
política e educacional, sendo parte do sujeito. Porém, alguns surdos
utilizadores de LGP possuem a língua portuguesa como uma segunda língua
(Quadros, 2003). Esta aprendizagem vai ao encontro de facilitar a troca de
informações entre indivíduos ouvintes e surdos (Quadros, 2003; Sá, 1999 cit in Inácio, s.d.).
Outro
ponto sustentado pela cultura surda é a defesa de diversos princípios para a
educação de crianças surdas. Do ponto de vista escolar, as crianças surdas são
reconhecidas, pelos membros da sua comunidade, como crianças que estão a
exercer os seus direitos civis de acesso à educação (Princípio 7.º: «a criança tem direito à educação (…). Deve
ser-lhe ministrada uma educação que promova a sua cultura e lhe permita (…) tornar-se
um membro útil à sociedade» [UNICEF, 1959]). Esta perspetiva é contrária
àquela onde as crianças surdas são caracterizadas como crianças que necessitam
de um apoio específico (Quadros, 2003).
Tendo
por base o exposto, constata-se que o termo surdez tem uma extensão social em
que a perda auditiva é apenas um fator médico e que não interfere no seu
crescimento enquanto pessoa nem na sua relação com os outros (Dorziat, s.d.).
Que termo deve o terapeuta da fala utilizar?
Sendo a
surdez uma área de intervenção de Terapia da Fala, é necessário o terapeuta ter
conhecimento da diferença entre os conceitos e quando e a quem é mais adequado
aplicar cada um deles. Contudo, a melhor decisão a tomar é perguntar à pessoa
com quem se trabalha qual o termo que prefere utilizar, pois a sua utilização
depende, em grande parte, da conceptualização da pessoa e do seu problema. Para
isso, o terapeuta deverá abordar a família e expor os seus conhecimentos, de
forma imparcial, face aos termos que são comummente utilizados, ou seja, deverá
explicar os conceitos que pode encontrar nas suas pesquisa e nos pré-conceitos
da sociedade (o termo “mouco” é ainda utilizado frequentemente na sociedade).
Além disso, é importante considerar o termo que os cuidadores usam quando se
referem à pessoa com perda auditiva e, caso seja o seu desejo, indicar locais
onde pode encontrar informação sobre os conceitos e os seus pressupostos.
Bibliografia
·
Bisol,
C. & Valentini, C. (2011). Surdez e Deficiência Auditiva – qual a
diferença. Objecto de Aprendizagem
INCLUIR. Acedido em 14 de junho de 2014, em: http://www.grupoelri.com.br/Incluir/downloads/OA_SURDEZ_Surdez_X_Def_Audit_Texto.pdf;
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Dorziat, A. (s.d.). Deficiente auditivo e surdo: uma reflexão
sobre as concepções subjacentes ao uso dos termos. Acedido em 13 de junho
de 2014, em: http://www.nre.seed.pr.gov.br/londrina/arquivos/File/6encontrogesurdezdeein.pdf;
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Inácio, W. (s.d.). A inclusão escolar do deficiente auditivo:
contribuições para o debate educacional. Acedido em 10 de junho de 2014,
em: http://saci.org.br/imagens/textos/arqs/incluescolarsurdo.pdf;
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Medeiros, L., Gianini, E.,
Gomes, M. & Batista, W. (2005). Desenvolvimento
de brinquedos pedagógicos para crianças surdas. Acedido em 10 de junho de
2014, em:
http://www.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/docs/midiateca_artigos/pratica_ensino_educacao_surdos/texto61.pdf;
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Quadros, R. (2003). Situando
as diferenças implicadas na educação de surdos: inclusão/exclusão. Ponto de Vista, 5, pp. 81-111. Ribeiro,
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Sá, N. (2006). Os Estudos
Surdos. In: Sá, N. (Org.), Cultura, poder
e educação de surdos. São Paulo: Paulinas.
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Skliar, C. (1998). Bilinguismo
e biculturalismo: Uma análise sobre as narrativas tradicionais na educação dos
surdos. Revista Brasileira da Educação,
8, pp. 44-57.
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UNICEF. (1959). Declaração Universal dos Direitos da
Criança. Acedido em 14 de junho de 2014, em: http://www.ie.uminho.pt/Uploads/NEDH/declaracao_universal_direitos_crianca.pdf.
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